O ataque brutal sofrido pelo jovem de 21 anos em Campo Grande reacende um debate urgente e necessário sobre a responsabilidade na criação de cães, especialmente os de raças com porte físico e histórico que exigem cuidados mais específicos, como os pitbulls. O episódio, ocorrido na noite de sábado (12), evidencia como a negligência ou o despreparo na guarda desses animais pode resultar em consequências gravíssimas — tanto para as vítimas quanto para os tutores.
O Caso
A vítima, que aguardava a entrega de uma pizza na casa de um amigo no Bairro Jóquei Clube, foi atacada por três cães da raça pitbull. Com ferimentos gravíssimos, incluindo o rompimento de uma artéria no braço esquerdo e a orelha dilacerada, o jovem permanece internado em estado grave na Santa Casa. A Polícia Militar foi acionada por testemunhas por volta das 20h30 e encontrou o rapaz com múltiplas lesões nos braços, pernas e nádegas.
Segundo o relato à polícia, o filho do tutor dos cães, de 20 anos, estava em casa com um amigo quando os animais se agitaram com a chegada do entregador e atacaram o jovem, que também estava na residência.
Responsabilidade Penal
A Polícia Civil deixou claro, em nota oficial, que a responsabilidade penal pelo ataque é do tutor dos cães. A depender das circunstâncias, ele pode responder desde uma contravenção penal até homicídio culposo, caso fique comprovada a omissão de cautelas mínimas de segurança.
Além disso, a investigação inclui o registro de boletim de ocorrência, exames de corpo de delito na vítima e, quando viável, perícia no local do ataque. Os animais podem ser apreendidos para avaliação comportamental, com o objetivo de evitar novos incidentes.
Comportamento Canino: Raça ou Criação?
O veterinário Antonio Defanti Junior, especialista em comportamento animal, reforça que o problema não está na raça, mas na forma de criação. Embora o pitbull tenha a imagem ligada à agressividade — por conta do uso histórico em rinhas — estudos mostram que não é mais perigoso com humanos do que outras raças. A diferença está no impacto da mordida.
“Ataques raramente acontecem sem aviso. Há sinais claros de alerta, como rigidez corporal, rosnados e olhar fixo. A supervisão constante e o adestramento positivo são fundamentais, principalmente em casas com crianças ou outros animais”, destaca Defanti.
A falta de socialização, punições frequentes, isolamento e ausência de estímulos físicos e mentais são fatores que contribuem fortemente para o desenvolvimento de comportamentos agressivos em qualquer cão, independentemente da raça.
Debate Reacendido
Este novo caso reforça a necessidade de políticas públicas mais rígidas sobre guarda responsável e maior conscientização da população quanto às obrigações legais e éticas ao adotar ou criar animais de grande porte. A ausência de legislação específica em muitos estados brasileiros sobre criação, contenção e responsabilização em casos de ataques contribui para a recorrência desses episódios.
Conclusão
Enquanto a vítima luta pela vida, o caso serve de alerta: criar cães de grande porte exige preparo, responsabilidade e consciência de que falhas podem custar vidas. O debate precisa ir além da criminalização pós-fato, envolvendo educação preventiva, fiscalização eficiente e políticas que incentivem o adestramento, a socialização e a guarda responsável dos animais.
