O caso do delegado Luccas Rodrigues Gomes, investigado por apropriação de carga contrabandeada, levanta uma série de questões importantes sobre a percepção da Justiça, o uso de medidas cautelares e a responsabilidade dos agentes públicos, principalmente quando ocupam funções de confiança como a de delegado da Polícia Civil.
Ponto a ponto do que chama atenção:
1. Viagem internacional mesmo com tornozeleira eletrônica
Apesar de estar afastado por ordem judicial, sob monitoramento eletrônico e investigação por corrupção, Luccas Gomes teve autorização da Justiça para viajar ao Uruguai como turista. Essa decisão, embora legal (por ter sido autorizada), pode ser percebida pela opinião pública como conivente ou branda, especialmente diante da gravidade das acusações.
2. Exposição nas redes sociais
Durante a viagem, o delegado publicou fotos de lazer e frases simbólicas em suas redes, como a legenda “É parte que o sol me ensinou” e trechos da música “A Força Estranha” de Gal Costa. Esses elementos, embora pessoais, causam repercussão negativa, pois mostram um investigado sob medida cautelar agindo com aparente tranquilidade, o que pode ser interpretado como falta de arrependimento ou senso de responsabilidade.
3. Salário mantido
Mesmo afastado por suspeita de conduta criminosa no exercício da função, o delegado continua recebendo salário integral: R$ 17.284,00 mensais, segundo o Portal da Transparência. A manutenção da remuneração em casos como esse é comum por questões legais (princípio da presunção de inocência e garantia de sustento), mas gera indignação social diante da natureza das suspeitas.
4. Investigação em segredo de Justiça
O caso segue sob sigilo, o que é usual em investigações que envolvem servidores públicos e questões sensíveis, mas também limita o escrutínio da imprensa e da sociedade sobre a real extensão dos fatos e os desdobramentos legais.
5. Contexto da acusação
Luccas Gomes e os investigadores Dagoberto Peters e Fernando Guerra são acusados de se apropriar de mercadorias apreendidas de um conhecido contrabandista de Vila Vargas, em Dourados. O afastamento por 90 dias foi determinado pelo corregedor-geral da Polícia Civil, e os três tiveram férias suspensas, sistemas de trabalho bloqueados e itens da corporação recolhidos.
Considerações finais
Esse episódio ilustra um conflito delicado entre garantias individuais e expectativas da sociedade por rigor e coerência da Justiça, especialmente quando envolve agentes da lei acusados de violá-la. A imagem pública da corporação também sofre desgaste, já que o comportamento de seus membros afeta diretamente a confiança institucional.
A repercussão do caso provavelmente se intensificará se novas informações vierem à tona após o fim do sigilo judicial ou se a Justiça entender que houve quebra de decoro ou abuso das prerrogativas concedidas (como a viagem).
Fonte : Campo Grande News
