Grupo do Senado tenta evitar tarifa de 50% sobre exportações brasileiras; missão teme boicote interno liderado por Eduardo Bolsonaro e blogueiro aliado
Em meio ao risco de um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros, previsto para entrar em vigor nesta sexta-feira (1º), o senador Nelsinho Trad (PSD-MS) afirmou que a pressão de empresários americanos contra a medida pode abrir o caminho mais eficaz para convencer o governo Donald Trump a negociar.
Liderando uma comitiva de oito senadores nos Estados Unidos, Trad participa de uma missão da Comissão Permanente de Relações Exteriores do Senado, que tenta nesta terça-feira (29) sensibilizar parlamentares americanos e evitar a deflagração de uma guerra comercial entre os dois países.
Na segunda-feira (28), o grupo participou de uma reunião estratégica na sede da Câmara de Comércio dos Estados Unidos (U.S. Chamber of Commerce), em Washington. O encontro reuniu empresários brasileiros e americanos, que se comprometeram a redigir um documento conjunto destinado à Casa Branca, pedindo a suspensão temporária das tarifas e a abertura de negociações sobre os produtos exportados, ponto a ponto.
“A partir do momento que a gente botou as empresas americanas para ir ‘pra cima’ do governo americano – ‘pra cima’ é forma de falar – pode se abrir um canal de diálogo que eu acho que vai ter mais resultado do que qualquer outra coisa”, afirmou Nelsinho ao Campo Grande News.
O parlamentar ressalta que, para os dois lados, os prejuízos seriam expressivos. “O impacto é muito negativo para eles. São empresários americanos que têm negócios com o Brasil. E ouvimos também os setores brasileiros. Laranja, café, carne, Embraer… É muito negativo para todos.”
Trad considera que, no atual momento, a iniciativa privada exerce papel mais relevante que os próprios políticos. “O papel dos empresários é mais importante para abrir caminho, superando a capacidade da política”, disse.
Fogo amigo preocupa missão brasileira
Apesar do avanço com os empresários, o senador alerta para um possível boicote à missão diplomática por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, notadamente o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o blogueiro Paulo Renato Figueiredo, neto do último general que comandou o país durante o regime militar.
Ambos já criticaram publicamente a criação da comissão pelo Senado e ameaçaram sabotar a agenda nos EUA. “Não vou dizer pra você que é confortável. Não é uma situação, vamos dizer, razoável, né? Podia estar diferente”, admitiu Trad.
Diante disso, os senadores adotaram cautela: os nomes dos parlamentares americanos com quem se reunirão nesta terça estão sendo mantidos em sigilo. “Por estratégia, estamos mantendo sigilo às audiências para que não haja nenhuma referência no sentido de inibir ou cancelar qualquer agenda previamente marcada”, explicou o senador.
Dia decisivo
Segundo Nelsinho Trad, os encontros com seis congressistas dos Estados Unidos marcam o momento mais decisivo da missão. “Para mim, é o dia mais importante”, declarou. Ele acredita que, caso os parlamentares americanos se juntem ao pleito dos empresários, haverá condições reais de reverter a medida tarifária antes que ela entre em vigor.
O senador conclui reforçando o caráter construtivo da missão. “Estamos andando pra frente, sem querer brigar com ninguém, para poder ajudar o Brasil.”
